Em reunião de avaliação após o segundo
turno, senadores petistas declaram-se impressionados com eficiência da
estratégia do presidente do PSB para derrotá-los
Para os senadores do PT, Eduardo Campos operou nas eleições como quem tem um projeto nacional independente
Nada de Aécio Neves (PSDB-MG). O alvo maior da preocupação do PT a
partir de agora é alguém que, pelo menos oficialmente, é aliado do
partido e do governo da presidenta Dilma Rousseff: o presidente do PSB e
governador de Pernambuco, Eduardo Campos. É o que se depreende dos
bastidores da reunião que a bancada do PT no Senado teve ontem (30) com o
presidente do partido, Rui Falcão, para avaliar os resultados do
segundo turno das eleições municipais, os efeitos do julgamento do mensalão
e as estratégias para o futuro. E a conclusão foi a seguinte: é preciso
ficar muito atento aos próximos passos dados por Eduardo Campos.
O PT venceu a principal eleição do país, com a vitória de Fernando
Haddad em São Paulo. Foi também o partido que mais prefeitos elegeu
entre as 85 maiores cidades do país. Cresceu em número de prefeituras,
enquanto todos os partidos de oposição decresceram. Apesar dos vários
motivos para comemoração, tratava-se de uma reunião de derrotados.
Nenhum dos senadores que se candidatou a prefeito – no PT e em outros
partidos – obteve êxito. Assim, a reunião com Rui Falcão acabou sendo
mais de queixas. E as queixas concentraram-se especialmente em Eduardo
Campos.
De um modo geral, as eleições deste ano apontaram para um quadro de
ânsia por renovação por parte do eleitorado. A própria eleição de
Fernando Haddad – um novato na política que derrotou José Serra (PSDB),
um político experimentado, que já administrou tanto a cidade quanto o
estado de São Paulo – apontou para isso. Os senadores do PT avaliaram de
que forma tal situação pode se projetar para a eleição de 2014. E
concluíram que esse cenário pode acabar abrindo um espaço para Eduardo
Campos como opção.
“De repente, temos uma presidenta bem avaliada, à frente de um
governo popular, e pode ser que não sejamos nós os que vamos lucrar com
isso. Podemos ter tudo isso e acabarmos derrotados”, concluiu um dos
senadores na reunião. Os relatos trazidos pelos senadores das eleições
foram no sentido de que Eduardo Campos atuou, especialmente no Nordeste,
como adversário. E, para os senadores, não foram questões locais que
fizeram com que ele agisse assim. Mas parte de uma estratégia maior.
“Ele ajudou o PSDB a me derrotar em Teresina”, disse, na reunião, o
senador Wellington Dias (PI). O senador José Pimentel contou como se deu
a campanha em Fortaleza, vencida por Roberto Cláudio, do PSB, contra o
candidato do PT, Elmano Freitas. “De uma hora para outra, nossos aliados
tradicionais não ficaram com a gente. E eu não falo nem do PMDB. O
PCdoB dizia para a gente: no governo federal, temos um tratamento
isonômico com outros aliados, mas o Eduardo nos promete mundos e
fundos”.
“Lutar contra a máquina estadual comandada por Eduardo Campos já era
duro. Mas a questão é que eu tive de lutar contra a máquina federal
também”, reclamou o senador Humberto Costa (PE), derrotado em Recife,
onde Eduardo Campos elegeu Geraldo Júlio (PSB) prefeito no primeiro
turno. Humberto Costa referia-se à ação do ministro da Integração,
Fernando Bezerra.
“No interior, então, a ação de Fernando Bezerra foi maior ainda”,
emendou Humberto. “Na Bahia também”, completou o líder do PT, Walter
Pinheiro (BA). Os senadores ainda reclamaram de uma ação política mais
efetiva do governo federal em favor do PT. Dilma, queixaram-se, não
apenas permitiu ações como as de Fernando Bezerra como ela própria pouco
atuou em favor do partido. Esse posicionamento mais neutro da
presidenta preocupa os senadores.
PSB e PSDB
Para os senadores, as novas derrotas do PSDB e dos demais partidos de
oposição, somadas à discreta exposição de Aécio Neves, pode significar a
adoção de um plano B pelos tucanos, até por uma questão de
sobrevivência. Ontem (30), o prefeito eleito de Manaus, Arthur Virgílio,
chegou a dizer que “sonha” com uma chapa formada por Aécio Neves e
Eduardo Campos. E completou: “Não importa a ordem”.
Para os senadores do PT, pode ser que o PSDB, diante do quadro
desfavorável, recolha as suas pretensões e opte por uma candidatura de
Eduardo Campos, um nome novo, de um partido novo, que poderia assim
escapar da rejeição aos nomes mais tradicionais da política, uma das
leituras que ficou das eleições deste ano. Eduardo manteve os laços com
Aécio em Belo Horizonte, quando os dois uniram-se para reeleger Márcio
Lacerda (PSB) prefeito. Em Recife, uniu-se a um opositor histórico do PT
e do governo, o senador Jarbas Vasconcelos. Jarbas é um dissidente do
PMDB, mas o PMDB é um partido que sempre procurou manter pontes com
todas as opções políticas disponíveis. Em Salvador, o vice-presidente de
Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal (CEF), Geddel Vieira Lima,
um político ligado ao grupo do vice-presidente Michel Temer, apoiou a
candidatura de ACM Neto, do DEM, que venceu as eleições.
Mensalão
O PT ainda não definiu uma estratégia unitária sobre como reagirá ao
final do julgamento do mensalão. Rui Falcão disse aos senadores que, ao
final do julgamento, o partido divulgará uma nota pública com a sua
manifestação. Os termos da nota ainda estão sendo discutidos, mas será
uma nota dura, apontando as incongruências e os aspectos políticos da
decisão e pontuando a pressão da mídia pela condenação. Mas a estratégia
mais forte deverá ser começar um movimento forte com o apoio da
militância exigindo que o mensalão mineiro, comandado pelo deputado
Eduardo Azeredo (PSDB-MG) seja julgado pelo Supremo Tribunal Federal
(STF) com o mesmo rigor.
Também discutiu-se na reunião que os fatos geradores de situações
como as dos dois mensalões são decorrência do sistema político
brasileiro, da sua forma de estruturação e de financiamento. Assim, a
melhor resposta política é apontar para a necessidade de uma reforma no
sistema, com a adoção do financiamento público de campanha e outras
providências. Uma estratégia pode ser tentar acelerar a tramitação do
projeto de reforma política relatado pelo deputado Henrique Fontana
(PT-RS) na Câmara.
Fonte: congressoemfoco