sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Setor público precisa agir rápido para manter investimentos

São Paulo, 26 de Dezembro de 2008 - O governo dispõe de um arsenal de medidas para atenuar o impacto da crise, que se manifestará de forma mais severa a partir de março de 2009. No entanto, tem pouco tempo para acioná-lo. "A janela que o governo tem para tomar uma medida mais corajosa é estreita", diz Carlos Pastoriza, vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).
O setor de bens de capital é definida por Pastoriza como o "pára-choque" da economia por seu grau de sensibilidade à variação dos investimentos. A Abimaq montou um comitê de gerenciamento da crise para acompanhar questões relativas a crédito, inadimplência e os níveis de pedidos em carteira.
O sinal de alerta vem da evolução da carteira de encomendas, que registrou queda de 32% de 15 de setembro a 1 de dezembro. "O que se produziu no ano não foi compensado com outros pedidos. Estamos sentindo o aumento da inadimplência, cancelamentos e adiamento de entregas porque as empresas não têm como pagar", afirma.
Nas contas da Abimaq, a carteira de pedidos se esgota entre o final de janeiro e meados de fevereiro. O setor vive de encomendas do passado e, pelo menos seis meses depois da deflagração da crise, a indústria começa a sofrer de fato. "Depois do Carnaval vamos ter uma carnificina de empregos e vai demorar dois anos para que ocorra uma recuperação", diz Pastoriza. "De janeiro a março vamos entrar em uma espiral da qual não sairemos rapidamente", afirma. Parte dos 240 mil empregos diretos do setor de bens de capital seriado se perderá neste período.
Para o economista Julio Gomes de Almeida, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), não existe uma solução que neutralize o impacto na economia. "Se o investimento está caindo com a crise internacional, é uma ilusão pensar que o governo possa resolver este problema. Ele pode minimizar", assinala Almeida.
A redução do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) concedida para a indústria automobilística poderia ser estendida para o setor de máquinas e equipamentos. Há espaço para melhorar as linhas de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O governo federal poderia também antecipar os investimentos orçados para o ano que vem para compensar, em parte, a perda dos investimentos privados. "Ele pode tentar fazer no primeiro semestre os investimentos programados para a segunda metade de 2009 e antecipar uma parte dos gastos de 2010", diz Almeida.
O economista considera relevante também diminuir a taxa básica de juros. "Na última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), que manteve a taxa de juro, o governo agiu como se a economia tivesse aquele fulgurante crescimento de 6,8% do PIB. Mas isso é um processo do passado."
Para Pastoriza, a Selic deveria ser reduzida a "um dígito". Ele estima que a cada ponto percentual de redução da taxa de juros, o governo economiza R$ 15 bilhões por ano. O corte de três pontos percentuais representaria de R$ 40 bilhões a R$ 50 bilhões adicionais para estimular o emprego na construção civil popular, obras de logística e transportes.
O incentivo da depreciação acelerada que consta da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) poderia se tornar um instrumento de estímulo a investimentos. O benefício permitiu que o setor de máquinas e as montadoras procedessem a depreciação em um quinto do prazo legal de 10 anos. Para Almeida, as empresas que "se aventurassem com novos empreendimentos em 2009" deveriam ser incluídas no pacote que possibilita pagamentos menores de imposto de renda.
O BNDES, que desembolsou R$ 79,9 bilhões em onze meses de 2008, não tem condições de suprir integralmente o mercado. Pastoriza diz que os empresários foram todos atrás do banco e para atender a essa demanda ele teria de dobrar de tamanho. O setor de máquinas e equipamentos faturou R$ 80 bilhões até outubro de 2008, 23% acima do apurado em igual período de 2007. O desempenho de 2009, depende do comportamento do governo, assinala Pastoriza.

Fonte: Gazeta Mercantil - Caderno A - Pág. 4

Nenhum comentário: