quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

A ética e a corrupção dos valores

23/12/2009

Por Frederico Jayme Filho

A atividade política é uma das admiráveis conquistas do homem como ser social. Na sua forma pura, é o instrumento mais eficaz que os cidadãos utilizam em prol do bem comum. Um espírito nobre é capaz de muitas vitórias, ao trabalhar com coragem e prudência.

Quem assume responsabilidades comprometidas com a ética, a moral e o bem público, tem o dever de precaver-se contra as teias da corrupção. A ética de Maquiavel, onde os fins justificam os meios, é perigosa e avoca riscos que a condenam a um caminho que esbarra nas mais sublimes ideologias, trazendo consequências muitas vezes desastrosas.

O político, ao definir sobre as instituições e tomar decisões estratégicas na vida das nações, tem influência sobre a vida das pessoas maior do que a de qualquer outro ofício. Por isso, a crise política sugere algumas ponderações sobre a questão da ética. Não apenas a ética pessoal ou social, mas a ética da responsabilidade, que considera as consequências das deliberações tomadas pelo político.

Há muitas pessoas que usam a atividade política para materializar o poder, numa demonstração de oportunismo que visa interesses próprios e não os da coletividade. Quando pensamos nos principais responsáveis pela atual crise – ética, moral e política – notamos que os compromissos com os valores são descartados. E uma postura de busca de resultados a qualquer preço, desvinculada dos bons princípios que regem a sociedade e norteiam o bem comum, atinge a todos.

A legitimidade na atividade política exige um comportamento íntegro e honroso, selado na confiança que os cidadãos depositam naqueles que os representam. A ingenuidade não subsiste, pois a política sobrevive entre critérios diferenciados de consciência. E, assim como toda evolução social, passa por esferas particulares de análise. Não é fácil diagnosticar um só problema ou propor apenas uma solução. A prática extrapola a pureza da arte.

Na verdade, as tensões da atualidade nos proporcionam a reflexão. Os interesses não podem ser egoístas. Se há conflitos entre grupos e classes sociais, a justificação dos fins diz respeito às opções que fazemos quanto aos projetos políticos ante as dificuldades reais que se apresentam. Os meios para atingir os fins almejados, em qualquer hipótese, devem ser retos e responsáveis.

É do conjunto de experiências concretas, salutares ou não, que a atividade política toma uma forma simples, disciplinada, pois a arte de governar requer esta sensibilidade e resignação. Da mesma forma que o homem foi capaz de progressos tão expressivos na maneira de pensar nos últimos anos, assim também a humanidade será capaz, passo a passo, de livrar-se da corrupção, reiterando as ações magnânimas, dignas e puras na sua intenção.

Fonte: DM

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