13/02/2009 - Por Fernando Gabeira
Milhões de internautas transformaram a história de David num dos maiores sucessos da rede. É um menino americano que saiu dopado do dentista e, no banco de trás do carro, perguntava desesperado: pai, isso é vida real? Alheios à angústia de David, os internautas se divertiram mesmo com suas inquietações dolorosas: isto vai durar para sempre?
O castelo do corregedor da Câmara suscitou em muita gente as mesmas perguntas de David. Isto é vida real? Vai durar para sempre? No caso do dentista, houve incompetência técnica. Mas, no da Câmara, apenas deixamos de observar os detalhes de um processo que acabaria no castelo, ou em algo mais exótico.
A degradação passou pelo esvaziamento do Conselho de Ética e pela aprovação da tese de que eleição absolve o deputado de crimes anteriores, chegando, finalmente, ao ‘liberou geral’. A maioria escolheu Edmar Moreira por achá-lo o corregedor certo para a época.
É vida real. Resta saber se vai durar para sempre. Oitenta e quatro por cento dos brasileiros aprovam o governo; um índice quase tão alto quanto a rejeição ao Congresso. Poucos acreditam na relação entre governo e decadência do Congresso. Vamos precisar de tempo.
Os antepassados também precisaram: uma escravidão resiliente, ditaduras que duram décadas. O Congresso é uma comodidade para o presidente. Tentação zero de fechá-lo. Se não houver algo exótico, o grande perigo é ser esquecido. Pelo menos, de vez em quando, um grande número de pessoas duvida de que isso seja vida real.
Precisamos de que alguém duvide da própria lucidez para nos certificarmos de que estamos vivos. Somos uma alteração da consciência popular, uma ‘bad trip’, como a do garoto David; um bode, na tradução nacional. Neste lugar, sobreviver é resistir.
Fernando Gabeira é deputado federal.
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