Thiago Peixoto
É impressionante o poder de sedução que o ex-presidente Juscelino Kubitschek exerce nos dias de hoje. Embalado na série exibida pela Rede Globo/TV Anhanguera, que conta a sua história, todos passaram a discutir a vida e o governo desse homem que tanto marcou o Brasil e, em especial, Goiás. As principais revistas semanais, os grandes jornais diários, exibição de documentários em canais a cabo, enfim, o Brasil parece ter redescoberto JK. Sei do poder que os veículos de comunicação exercem na sociedade, mas não acredito que seja só isso. Creio que toda essa repercussão tem como principais causas as circunstâncias políticas e econômicas atuais, pois Kubitschek representa um contraponto à falta de projeto que vigora atualmente em nossa nação.
Juscelino governou guiado pelo famoso Plano de Metas, formulado por uma brilhante equipe comandada por Lucas Lopes. A formulação macroeconômica do plano foi realizada pelo especialista em desenvolvimento econômico latino-americano Celso Furtado, que era integrante da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL) e presidiu um Grupo Misto de Estudos composto também por técnicos do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDE). A equipe de Kubitschek elaborou em tempo recorde um conjunto de metas voltadas para a produção nacional.
O plano era composto por 30 metas divididas em cinco setores: energia, transporte, alimentação, indústria de base e educação, além da famosa meta-síntese que anunciava a construção de Brasília. Os goianos tiveram participação fundamental no grande desafio que era a transferência da capital. Logo no seu primeiro comício em Jataí, o então candidato foi desafiado pelo senhor Antônio Carvalho Soares, o Toniquinho, a cumprir um dispositivo constitucional que previa a transferência da capital para o planalto goiano. JK topou o desafio e, antes mesmo de tomar posse como presidente, pediu ao então governador de Goiás, Juca Ludovico, que desapropriasse a área onde seria construída Brasília. A capital foi construída e fundada ainda no governo de Juscelino. E pensar que atualmente sofremos há uma década com a duplicação inacabada da rodovia que liga Goiânia a Brasília.
O Plano de Metas passou a ser implantado em um ritmo alucinante. Para fugir dos entraves burocráticos e viciados da máquina governamental foi criada a Administração Paralela, uma forma de gestão legal que criava condições para Juscelino fazer o Brasil acontecer. Aproveitando uma onda de crescimento que seguiu a criação do Mercado Comum Europeu em 1957, o país começou a crescer, obtendo, em média, um crescimento anual de aproximadamente 8 %. Usando capital estrangeiro, bem diferente do capital especulativo que hoje chega ao Brasil, que vinha para financiar a produção e o desenvolvimento, nossa economia viveu uma mudança estrutural. O setor de produção teve um crescimento fantástico, ultrapassando a agricultura na sua participação no PIB.
JK é acusado de ter colocado o Brasil na rota inflacionária que atingiu o auge no governo Sarney. Porém, é importante lembrar que o problema inflacionário já existia no Brasil antes do governo de Kubitschek e que a hiperinflação dos anos 80 foi fruto do esgotamento do modelo de substituição de importações na chamada década perdida, além das crises do petróleo enfrentadas pela economia mundial e da crise dos juros americanos. Juscelino rompeu também com o Fundo Monetário Internacional (FMI), pois não aceitava as condições que o Fundo tentava impor ao País; não seria o FMI e suas exigências contra o crescimento que freariam o nosso progresso. JK privilegiou o desenvolvimento econômico ao controle monetário; tinha pressa, pois sabia que se não implementasse seu plano de metas, ninguém teria coragem de fazê-lo. O Brasil não podia esperar!
Em um país que atualmente tem como principais metas o superávit primário, a inflação e uma operação tapa-buracos, o plano de metas do governo Juscelino era de uma ousadia inacreditável e desperta a curiosidade de toda a população, que convive com a mediocridade administrativa dos últimos e atuais governos. O plano era ambicioso e foi executado de forma muito eficiente. Outro diferencial a ser lembrado é que Kubitschek exerceu seu mandato buscando incansavelmente o cumprimento dos objetivos traçados, diferente do presidente atual, que faz campanha com algumas propostas, mas governa com outras. JK tinha um projeto de país e coragem para implantá-lo; nossos governantes exercem um covarde projeto de poder.
Thiago Peixoto é economista
Jornal O Popular, 13 de janeiro de 2006, pág. 6.
É impressionante o poder de sedução que o ex-presidente Juscelino Kubitschek exerce nos dias de hoje. Embalado na série exibida pela Rede Globo/TV Anhanguera, que conta a sua história, todos passaram a discutir a vida e o governo desse homem que tanto marcou o Brasil e, em especial, Goiás. As principais revistas semanais, os grandes jornais diários, exibição de documentários em canais a cabo, enfim, o Brasil parece ter redescoberto JK. Sei do poder que os veículos de comunicação exercem na sociedade, mas não acredito que seja só isso. Creio que toda essa repercussão tem como principais causas as circunstâncias políticas e econômicas atuais, pois Kubitschek representa um contraponto à falta de projeto que vigora atualmente em nossa nação.
Juscelino governou guiado pelo famoso Plano de Metas, formulado por uma brilhante equipe comandada por Lucas Lopes. A formulação macroeconômica do plano foi realizada pelo especialista em desenvolvimento econômico latino-americano Celso Furtado, que era integrante da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL) e presidiu um Grupo Misto de Estudos composto também por técnicos do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDE). A equipe de Kubitschek elaborou em tempo recorde um conjunto de metas voltadas para a produção nacional.
O plano era composto por 30 metas divididas em cinco setores: energia, transporte, alimentação, indústria de base e educação, além da famosa meta-síntese que anunciava a construção de Brasília. Os goianos tiveram participação fundamental no grande desafio que era a transferência da capital. Logo no seu primeiro comício em Jataí, o então candidato foi desafiado pelo senhor Antônio Carvalho Soares, o Toniquinho, a cumprir um dispositivo constitucional que previa a transferência da capital para o planalto goiano. JK topou o desafio e, antes mesmo de tomar posse como presidente, pediu ao então governador de Goiás, Juca Ludovico, que desapropriasse a área onde seria construída Brasília. A capital foi construída e fundada ainda no governo de Juscelino. E pensar que atualmente sofremos há uma década com a duplicação inacabada da rodovia que liga Goiânia a Brasília.
O Plano de Metas passou a ser implantado em um ritmo alucinante. Para fugir dos entraves burocráticos e viciados da máquina governamental foi criada a Administração Paralela, uma forma de gestão legal que criava condições para Juscelino fazer o Brasil acontecer. Aproveitando uma onda de crescimento que seguiu a criação do Mercado Comum Europeu em 1957, o país começou a crescer, obtendo, em média, um crescimento anual de aproximadamente 8 %. Usando capital estrangeiro, bem diferente do capital especulativo que hoje chega ao Brasil, que vinha para financiar a produção e o desenvolvimento, nossa economia viveu uma mudança estrutural. O setor de produção teve um crescimento fantástico, ultrapassando a agricultura na sua participação no PIB.
JK é acusado de ter colocado o Brasil na rota inflacionária que atingiu o auge no governo Sarney. Porém, é importante lembrar que o problema inflacionário já existia no Brasil antes do governo de Kubitschek e que a hiperinflação dos anos 80 foi fruto do esgotamento do modelo de substituição de importações na chamada década perdida, além das crises do petróleo enfrentadas pela economia mundial e da crise dos juros americanos. Juscelino rompeu também com o Fundo Monetário Internacional (FMI), pois não aceitava as condições que o Fundo tentava impor ao País; não seria o FMI e suas exigências contra o crescimento que freariam o nosso progresso. JK privilegiou o desenvolvimento econômico ao controle monetário; tinha pressa, pois sabia que se não implementasse seu plano de metas, ninguém teria coragem de fazê-lo. O Brasil não podia esperar!
Em um país que atualmente tem como principais metas o superávit primário, a inflação e uma operação tapa-buracos, o plano de metas do governo Juscelino era de uma ousadia inacreditável e desperta a curiosidade de toda a população, que convive com a mediocridade administrativa dos últimos e atuais governos. O plano era ambicioso e foi executado de forma muito eficiente. Outro diferencial a ser lembrado é que Kubitschek exerceu seu mandato buscando incansavelmente o cumprimento dos objetivos traçados, diferente do presidente atual, que faz campanha com algumas propostas, mas governa com outras. JK tinha um projeto de país e coragem para implantá-lo; nossos governantes exercem um covarde projeto de poder.
Thiago Peixoto é economista
Jornal O Popular, 13 de janeiro de 2006, pág. 6.
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