quinta-feira, 5 de junho de 2008

MEIO AMBIENTE: Momento crítico

São José dos Campos (SP), 5 de Junho de 2008 - As mudanças globais causada pelas alterações climáticas podem comprometer definitivamente o crescimento econômico do Brasil. Essa afirmação é um lugar-comum no meio científico. As conseqüências deste processo são oriundas de ações internas, como o avanço no desmatamento amazônico e da Mata Atlântica, ou externas originárias dos efeitos antrópicos sobre o meio ambiente, principalmente gerado nos países desenvolvidos. As últimas semanas revelaram a extensão da crise ambiental brasileira em números e no cenário político. A ex-ministra Marina Silva demitiu-se do cargo após se sentir desprestigiada pelo governo federal e pressionada por autoridades dos estados líderes no desmatamento do complexo amazônico. Enquanto isto, lideranças internacionais fazem novamente coro para a internacionalização da Amazônia. Os dados científicos mostram que a situação está longe de ser controlada.O sistema do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), denominado Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter), revelou que 1.123 km da Floresta Amazônica veio abaixo em abril deste ano. Assustadores 794 km correspondem somente ao Mato Grosso. Aproximadamente 17% da floresta desapareceu, cedendo lugar a pastos e áreas de cultivo da monocultura. Outro baque na combalida imagem do preservacionismo brasileiro. A Fundação SOS Mata Atlântica e o Inpe divulgaram a conclusão dos levantamentos do "Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica". Os dados mostram que o bioma que manteve fértil o solo por milhares de anos em praticamente todo sudeste, nordeste e sul do território está reduzido a 7,26% de sua área original. Ou seja, 97,5 mil km. Na faixa antes ocupada por essa floresta, que chegou a ter de 1,3 milhão de km ao longo de 17 estados brasileiros, se concentra a maior parte da população brasileira. Na mesma latitude se encontram grandes desertos, como o da Namíbia e do Kalahari, ambos situados na África, que estão em constante expansão. Vários cientistas relacionam esse aspecto do continente vizinho a um possível colapso da faixa litorânea no Brasil sem a interferência da Mata Atlântica no ciclo das chuvas e na preservação do solo. Ano crítico Para um dos mais importantes cientistas do País junto ao Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), Carlos Nobre, o Brasil vive este ano mais um de seus momentos críticos ambientais e de perspectivas para o desenvolvimento sustentável. Isto foi confirmado pelo cientista do Conselho de Pesquisa de Ambiente Natural da Grã-Bretanha, Peter Cox, em suas simulações climáticas sob efeito do aquecimento global. Ele pode constatar que na segunda metade deste século a floresta começou a desaparecer, dando lugar a um deserto do tamanho da Península Arábica. Um desastre inimaginável, inclusive pela liberação maciça de gases de efeito estufa na atmosfera – toda Amazônia representaria 15 anos de dióxido de carbono de origem fóssil produzido em todo mundo. E essa representação não incluiu o desflorestamento feito pelos humanos. Após três anos consecutivos de reduções da área total desmatada na Amazônia brasileira, a tendência foi interrompida. As taxas de remoção e degradação da maior floresta tropical do planeta voltou a crescer a partir do segundo semestre de 2007. "O aumento do desmatamento significa crescimento das emissões de gases de efeito estufa, tornando ainda mais difícil atingir os objetivos da convenção sobre Mudanças Climáticas e sobre estabilizar as concentrações sem níveis não perigosos", conclui Nobre, pesquisador do Inpe. Além disto, o Brasil tem que cobrar em muito as outras nações para reduzir suas taxas de emissões. Um dos perigos externos é a formação do El Niño permanente ou edições com mega El Niño, que passaram a ser mais freqüentes e fortes em meados dos anos 80. Neste caso, o Nordeste seria castigado por secas avassaladoras e o Sul por tempestades cataclísmicas. Além dos prejuízos incalculáveis, a anomalia climática nestas condições colaborará decisivamente para secar, literalmente, todo complexo hídrico amazônico - a maior reserva de água doce corrente continental do mundo. E por fim, lançar baforadas gigantescas de ar quente e seco sobre a porção oriental da floresta, impedir a formação de chuvas, e extinguir os ricos ecossistemas em monstruosos incêndios. Em menos de 50 anos o local da floresta seria um imenso gramado, pronto para se tornar um deserto.
Fonte: Gazeta Mercantil (Relatorio - Pág. 1 - Júlio Ottoboni)

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