quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Litoral Leste 11/01 - Canoa: ideal para fugir do frio

Chefe de obras Aaron Healy e o filho Cole, dos EUA, estão pela primeira vez em Canoa Quebrada. Na semana passada, Healy comprou um terreno em Aracati, para quando precisar passar as férias (Foto: MELQUÍADES JÚNIOR)
Aracati. Quem foge do frio, procura o paraíso, miticamente visto como um lugar imenso, ensolarado, com muita água, sombra e água fresca. Sem muito esforço, as praias cearenses são a verdadeira reprodução palpável da miragem da idéia de lugar para se viver tranquilamente para qualquer sonhador, aqui e alhures. E Canoa Quebrada é um bom exemplo. De toda parte do mundo tem gente de lugares tão diferentes quanto é imensa a diferença térmica. Fugindo do inverno de até menos 15 graus Celsius em direção aos 40 graus à beira mar, principalmente os europeus invadem a praia e aumentam os idiomas e sotaques dos sussurros entre uma barraca e outra.Talvez só as praias brasileiras e uma reunião das Organizações das Nações Unidas (ONU) conseguem reunir, ainda que dispersos, tantos diferentes idiomas, culturas, sotaques num só lugar. Em Aracati, a Praia de Canoa Quebrada tem ares cosmopolitas. Os turistas vêm da Suécia, Dinamarca, Finlândia, Noruega, Estados Unidos; da Espanha e da Itália, então, “nem se fala”, confirma o sorveteiro Miguel Rodrigues de Oliveira, 34 anos de idade e três de Canoa Quebrada.Se a principal função da língua é comunicar, gerar o entendimento, então Miguel acredita que sabe falar inglês e espanhol. “Francês, não”. Depois diz que “não, eu só falo o básico, dá pra fazer a venda sem problema”, confessa. Ou, como disse Francilene Silva Rocha, da lanchonete Só Lanche, “a gente dá um jeito”. Nada que um cardápio bilíngue e disposição para entender as palavras-chaves não ajudem. E assim, sem querer querendo, os habitantes de Canoa aprendem a falar a língua do “gringo”.Já o vendedor ambulante, Adaildon dos Santos, já saiu até em jornal e revista estrangeiros. Ele e o Barrichelo, como chama carinhosamente o jumento que empurra o bar móvel Jeg´s Bar.Uma recolonização, afinal, inúmeros são os empreendimentos turísticos nas mãos de estrangeiros tão ou mais que brasileiros, nas areias de canoa? “Não”, alegam os estrangeiros “brasileiros” de Canoa de coração. É que quem vem para cá quer mesmo é sossego. Os estrangeiros que cá ficaram para morar são alguns dos principais fatores para a atração turística de estrangeiros, notadamente europeus, nas praias de Aracati. O italiano que chega à pousada Dolce Vita está, praticamente, em casa. O conterrâneo Giovanni Vinci identificou cada um dos 18 quartos do local não com números, mas com nomes de filmes do cineasta Frederico Fellini, orgulho do cinema mundial. Cada chalé tem um cartaz original dos filmes do italiano. Ao som ambiente, música européia, mas também muita bossa nova, precursor do samba quando a pergunta a esses estrangeiros é: “o que é que o Brasil tem?”O médico finlandês Martt Olinnen trouxe a esposa Taru e os filhos Anniina e Juhanl para conhecerem a Praia de Canoa Quebrada. Saiu do frio abaixo de zero graus para o sol tórrido do Ceará, refrescado com água do mar ou da piscina da pousada, lugar preferido para cochilar de cara para o sol, ou fazer deste luminária e aquecedor para ler “Os pastores da noite”, de Jorge Amado, traduzido para o inglês.Na praia, um francês encontra outro, que encontra outro e aquilo que os une – língua e lazer – vira motivo para ficarem na mesma barraca, com sol e mar de dar inveja a quem, no verão de lá, relaxa na praia artificial à beira do Rio Sena. Para dar a boa notícia aos seus que estão muito longe, os turistas contam com a agência dos Correios no Pólo de Lazer da comunidade. Todo dia tem quem envie um Cartão Postal para a família – e até quem receba do estrangeiro. Um postal prioritário, por exemplo – que leva oito dias para chegar ao destino na Europa, custa a partir de R$ 2,20. Os norte-americanos Ken Armostrong e Aaron Healy, do Estado da Carolina do Norte, não querem mais sair de Canoa. É normal essa afirmação pelos turistas. Mas se fizer como muitos, que levam isso a sério, o chefe de construção civil Aaron, que veio com o filho Cole, 8 anos, pode não sair mesmo. Na semana passada comprou um terreno em Aracati, para quando precisar passar as férias. O garoto Cole ri para o vento, de impressionado com o “paradise”.A beleza das praias e pessoas de Canoa Quebrada ainda revelam, sem muita dificuldade, que a “invasão” estrangeira se dá em busca de diversão, mas esta é uma faca de dois gumes, pois tem também o turismo sexual, que empurra a roda da prostituição e do tráfico de drogas. Porque também gera emprego e renda, o assunto ainda é pouco enfatizado em muitas praias cearenses. Mas Canoa não perdeu sua beleza, tem gente de todas as idades, cores e línguas, que querem imitar o movimento das ondas do mar. E quem vem, quer ficar; quem vai, quer voltar.
Melquíades Júnior
Colaborador
Fonte: Diário do Nordeste

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