01/07/2009
Antonio Delfim Netto
O Conselho Monetário Nacional deve estabelecer a meta de inflação anual a ser perseguida em 2011. Curiosamente, não se vê uma palavra dos furiosos “mercadistas” para reduzi-la. Apenas manifestações para mantê-la em 4,5%. Esta parece uma boa solução quando o País está emergindo de uma crise importada e pagando um preço maior do que seria necessário, se o Banco Central tivesse tido um pouco mais de ousadia e maior senso de urgência para restabelecer o crédito interbancário.
Isso nada tem a ver com a natureza da nossa política monetária: um Banco Central com credibilidade e operacionalmente autônomo no regime de metas inflacionárias é, com suas virtudes e seus problemas, o “estado da arte”. A sua principal virtude deriva do fato, empiricamente confirmado, que o controle da taxa de inflação depende, basicamente, da “expectativa” criada sobre ela. Uma autoridade autônoma e crível pode impor, pela variação do seu instrumento, (a taxa de juro de curto prazo), custos aos três agentes: aos trabalhadores determinando o nível de emprego e, no final, seu salário; aos empresários determinando o custo de seus empréstimos e o volume de suas vendas e, no final, os seus lucros. E ao governo aumentando o custo de sua dívida e, logo, obrigando-o a controlar seus deficits.
À tantas virtudes correspondem, também, muitos problemas. A política monetária tem que levar em conta dois parâmetros platônicos: o produto “potencial” e a taxa de juro real de “equilíbrio”. As melhores tentativas empíricas de determiná-los, simultaneamente, mostram que o primeiro é altamente problemático e o segundo não é constante! Para proteger sua “credibilidade”, a melhor estratégia do Banco Central será, portanto, escolher o menor produto potencial e a maior taxa de juro real de equilíbrio. É disso que decorre o seu conservadorismo institucional, provavelmente um dos fatores de redução permanente da taxa de crescimento econômico. O resultado dramático desse comportamento é que ele constrói uma história que depois parece confirmar suas estimativas...
Há outros problemas graves. Ainda não sabemos, por exemplo, como introduzir na política monetária as variações dos preços dos ativos (bolsa e taxa de câmbio). A razão fundamental para manter a meta de inflação em 4,5% é que ela parece suficiente para dissipar o calor provocado pelas ineficiências do sistema econômico nacional com um crescimento de até 5% ou 6% ao ano. Antes de reduzi-la, portanto, seria melhor enfrentar as reformas necessárias para corrigir aquelas ineficiências.
Fonte: DM
Fonte: DM
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