segunda-feira, 18 de maio de 2009

Ética comunista de Che

18/05/2009
De tempos em tempos, resolvo buscar na minha biblioteca – que tem centenas de livros em montão – alguma obra publicada há anos para relê-la. Reencontro muita coisa boa. Algumas delas, ruins, jogo no lixo. Sábado passado aconteceu comigo uma surpresa. Lá estava El pensamiento del Che Guevara, publicado na Espanha em 1971, e escrito por Michael Löwy, pesquisador afeito a estudar a vida e a obra revolucionárias do guerrilheiro e médico argentino-cubano, que sabia, com igual destreza, manejar a “caneta e a metralhadora”. Não fui admirador dessa figura histórica.
Após 41 anos de sua morte, na Bolívia, continua a ser uma referência principalmente para os jovens que acreditam no surgimento de “um outro mundo”, que não o capitalista. Vejo, no entanto, que existem certos movimentos, inclusive no Brasil, que pregam a resistência à ordem reinante, e que ainda são fiéis ao guevarismo radical.
Em janeiro de 2006, no seu discurso de posse, Evo Morales prestou homenagens aos que chamou de “nossos antepassados” que lutaram e, na oportunidade, falou que Che Guevara desejava um mundo novo construído de igualdade. Não se iludam aqueles que acreditam que o comunismo de Marx, de Lenin, de Trotsky, de Rosa de Luxemburgo, de Gramsci, de Fidel Castro e de tantos outros doutrinadores findou-se com a queda do muro de Berlim, em 1989, e com a derrocada da União Soviética. Ledo engano.
Ainda está vivo em muitas camadas populares. Volto, agora, a falar sobre o livro. Observei que a ética comunista de Che era dúplice: humanista e revolucionária. Era fundamentada em alguns valores essenciais: a liberdade, que para ele consistia na faculdade de cada um decidir contra toda a opressão política ou econômica; a igualdade, uma vez que propugnava pela existência de indivíduos e grupos sociais para que mantivessem os mesmos direitos e sem que houvesse diferenças de classes; pregava por uma sociedade justa que não contivesse o individualismo mesquinho, o egoísmo feroz, o capitalismo selvagem, neste mundo atual em que dizia que o “ser humano é o lobo dele mesmo”.
Depois que acabei de ler o livro, fiquei meditando: será que suas ideias foram as causadoras de seu rompimento com Fidel? Num debate, em Havana, realizado em dezembro de 1964, Che falou sobre a questão da ausência de igualdade verdadeira no socialismo real, e, que estava decepcionado com tudo que o cercava porquanto havia notado que, nos países comunistas da Europa, “sobrepunham-se os interesses materiais dos dirigentes, pois via neles o princípio de corrupção”.
Aqueles que pensam que virei guevarista estão redondamente enganados. Sou democrata e continuarei a sê-lo até meus últimos dias. Estou emitindo opiniões acerca do pensamento de um revolucionário que lutou e morreu defendendo suas ideias. Se quisesse, ele poderia estar em Cuba até hoje desfrutando das benesses que o comunismo da ilha, com certeza, lhe ofereceria. Preferiu enfrentar as tropas bolivianas, financiadas pela CIA, e morreu deixando seu nome para a história.
Por Luiz Augusto Sampaio membro da Academia Goiana de Letras
Fonte: DM

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