14/05/2009
Imaginem uma sala de aula convencional, como tantas que conhecemos, inclusive aquela em que você estudou ou que estudaram seus pais. O que lhe vem à cabeça? Uma mesa de professor tendo às costas um quadro negro? Fileiras de carteiras? O andamento da aula, com os alunos voltados para o professor, prestando atenção ao que é por ele ensinado? Atividades e tarefas sendo colocadas na lousa para que os alunos trabalhem individualmente e em silêncio?
Pois esta é a escola de ontem e que continua sendo aquela que está em uso nos dias de hoje na maioria das cidades do País e em várias partes do mundo. E, creiam, continuará ainda a ser a dura realidade pela qual terão que passar milhões de estudantes. Sua perspectiva continuará sendo retilínea (olhar para a lousa e para a cabeça de seu companheiro instalado a sua frente), individualista, pautada naquilo que o professor (o detentor dos conhecimentos) estiver ensinando e, em grande parte dos casos, repetidora de conteúdos.
Faltam então as inovações tecnológicas? Computadores e internet seriam a resposta adequada? Precisamos equipar as escolas com modernos “gadgets” (termo usado pelos especialistas em tecnologia para falar sobre os recursos eletrônicos incorporados ao cotidiano), como câmeras digitais, netbooks, redes wireless, scanners e tantos outros instrumentos de alta tecnologia para que surja a escola do futuro? Ou será que nos faltam revolucionários métodos de ensino que estimulem o processo de ensino-aprendizagem, gerando verdadeiro interesse e participação dos estudantes? Neste caso, seriam necessários também materiais didáticos inovadores e o preparo dos professores para seu uso, não é mesmo?
Talvez a resposta esteja na melhoria das relações entre professores e alunos. Quem sabe um aprofundamento em psicologia e relações humanas para os docentes acabe promovendo um intercâmbio, uma ponte bem constituída para a efetivação da educação nas salas de aula brasileiras.
Outra possibilidade pensada por muitos se refere à ideia de que para tudo modificar é preciso melhorar a qualidade do trabalho dos gestores das redes e escolas brasileiras. Se tivermos por parte dos gestores maior foco e cobrança – tanto em relação a eles quanto deles sobre os professores e demais profissionais da escola –, planejamentos e execução meticulosa de projetos educacionais, iremos obter melhores resultados nas salas de aula. Há também os que pensam ser indispensável aumentar a participação dos pais na vida escolar dos filhos, não apenas na questão das notas, mas também conhecendo os professores, participando de eventos etc.
Existem ainda aqueles que acreditam que a escola precisa estar mais atenta às mudanças da clientela que atende, ou seja, de seus alunos. Os estudantes do século XXI têm outro perfil, são mais ligados na informação, mas não sabem transformar todos os dados aos quais têm acesso em conhecimento. Como lidar com isto? E mais: de que forma tornar as escolas palatáveis aos olhos desta geração tão plugada e íntima das tecnologias? Desprezar esta realidade é sacrificar qualquer tentativa de melhorar a qualidade da educação no País.
Outra corrente advoga a ideia da aproximação entre educação e cultura para que ocorra um aprendizado lúdico, diferenciado, verdadeiramente estimulante aos olhos dos estudantes e mesmo dos professores. Cinema na escola, teatro, artes plásticas, música, dança e literatura deveriam ser colocados em pauta e transformados em meios e recursos para tornar nossas salas de aula locais em que a aprendizagem realmente acontece.
Não podemos ignorar os esforços que já estão sendo realizados para “mensurar” a educação e permitir que, através das informações coletadas, possamos entender os dilemas de nosso sistema educacional para resolver seus problemas. Há quem acredite que este esforço inicial de compreensão dos problemas educacionais a partir de exames nacionais, estaduais ou municipais das redes, escolas, professores e alunos já é mais de meio caminho andado rumo às soluções.
A formação e atualização dos conhecimentos e práticas educacionais utilizadas pelos educadores é outra forte vertente sempre colocada em pauta quando se discutem soluções educacionais. O assunto envolve ainda discussões sobre salários melhores, reconhecimento do esforço individual e coletivo de redes e escolas, gratificações e bonificações – alguns outros “nós” que estrangulam e impedem uma educação de qualidade.
Investimentos em laboratórios e projetos de ciências, bibliotecas e quadras esportivas também são colocados como alternativas importantes. Até mesmo o ensino religioso e as disciplinas que trabalham a filosofia, a sociologia, as relações humanas, a ética, a moral e a cidadania são pensados como projetos importantes.
Mas, como podemos realmente efetivar transformações que modifiquem a visão inicialmente apresentada neste artigo e que evidencia uma triste e dura realidade vivida em nossas escolas, com nossos estudantes tendo dificuldades até mesmo para as mais básicas ações, como ler, escrever e fazer cálculos matemáticos? Quem tem razão neste emaranhado de soluções que já estão sendo realizadas de forma isolada em escolas brasileiras? Seria possível apontar um destes caminhos como sendo a chave que irá desencadear a imprescindível revolução pela qual nossa educação precisa passar para alcançar a tão sonhada qualidade?
Tive a preocupação de enumerar toda esta série de ideias porque, na realidade, acredito que a escola de nossos sonhos só irá surgir a partir do momento em que conseguirmos concatenar e realizar todas as ações aqui listadas – além de outras tantas a serem sugeridas. Tenho consciência de que isso só acontecerá após planejamento e intercâmbio de experiências, com o apoio decisivo da sociedade e vontade política para tal, com investimentos e, principalmente, num contexto de confiança, solidariedade e disposição real para que esta transformação ocorra.
Creio que a educação de qualidade é o elemento decisivo para completar a transição de que o Brasil precisa rumo à justiça social, ao desenvolvimento econômico e à superação de suas mazelas e incongruências. A educação de qualidade poderia legar ao país maior qualificação da mão-de-obra, preparação para o exercício pleno da cidadania, a diminuição dos índices de violência, maior preocupação e ações em prol do meio ambiente, redução dos casos de doenças e gastos com saúde, combate sistemático à corrupção, aumento dos índices de produtividade na economia, inserção mais rápida ao mundo tecnológico, entre tantos outros benefícios.
Por João Luís de Almeida Machado editor do Portal Planeta Educação; doutor em Educação pela PUC-SP e autor do livro Na Sala de Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema
Fonte: DM