GUSTAVO URIBE - Agencia Estado
SÃO PAULO - Uma eventual participação da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (PT-AC) na disputa à sucessão no Planalto pelo PV é bem vista por cientistas políticos entrevistados pela Agência Estado. Na avaliação deles, Marina representaria uma "terceira via" em uma corrida eleitoral polarizada por PT e PSDB. "Ela deve ser a alternativa dos eleitores descontentes com o governo do presidente Lula e com o trabalho da oposição", explica Humberto Dantas, conselheiro do Movimento Voto Consciente.
Os cientistas políticos ainda ressaltam que a participação de Marina na corrida eleitoral deve empurrar a disputa para o segundo turno. Figura carismática e com uma trajetória de peso em prol do meio ambiente, a ex-ministra deve obter "uma margem de 15% dos votos em primeiro turno", estima Dantas. Além de eleitores descontentes com a dobradinha PSDB-PT, a ex-ministra deve angariar os votos de eleitores mais esclarecidos sobre os riscos de uma catástrofe ambiental e de "órfãos da ex-senadora Heloisa Helena (PSOL)", que pode não disputar as eleições em 2010. "Ela vai carregar uma bandeira importante e pouco recorrente no universo político brasileiro: a proteção ao meio ambiente", lembra José Paulo Martins, coordenador da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP).
Caso seja mesmo candidata, Marina Silva também deverá provocar uma mudança no discurso eleitoral de seus concorrentes, sobretudo o tucano José Serra e a petista Dilma Rousseff, que se pautam por uma linha mais desenvolvimentista. Para Carlos Melo, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper, ex-Ibmec), a senadora colocará em pauta no debate político a preservação ambiental, "tema pouco caro aos virtuais candidatos à presidência Dilma e Serra". Na sua avaliação, tanto a ministra-chefe da Casa Civil como o governador de São Paulo terão como carro-chefe em 2010 programas que esbarraram no meio ambiente e compraram briga com ambientalistas. "Eles terão de tomar cuidado quando falarem sobre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e sobre o Rodoanel", destaca Melo.
Desde o início de junho, a ex-ministra do Meio Ambiente é sondada pela cúpula do PV para disputar a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Seu nome surgiu em pesquisa feita com membros da sigla que apontou o desejo de 85% da militância em ter candidatura própria nas próximas eleições. No início um pouco relutante em aceitar o convite, Marina mudou de postura no final de julho, quando uma pesquisa telefônica encomendada pelo PV mostrou que o seu nome é competitivo para a disputa presidencial.
Ainda que a ex-ministra seja uma candidata de peso, as chances de ela ser eleita são reduzidas, avaliam os especialistas. Humberto Dantas lembra que o PV é um partido pequeno, com pouca representação política e com um reduzido tempo de campanha televisiva. Contudo, os analistas foram unânimes em reconhecer que tanto Marina como o PV devem sair ganhando desse enlace eleitoral. A ex-ministra deve ter apoio incondicional dos verdes em reafirmar a sua luta favorável à preservação do meio ambiente. E a sigla ganhará projeção nacional e deve fortalecer a sua bancada no Congresso Nacional. "O partido já fala em ampliar de 14 para 25 o número de deputados federais. Eles estão certos em apostar que a senadora é uma boa puxadora de votos", avaliou Dantas.
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