A guerra de interesses (principalmente comerciais, em nome do reino da liderança em audiência) entre a Rede Globo e a Igreja Universal do Reino de Deus, tendo à frente a Rede Record, leva a pensar sobre o papel da maioria das igrejas nos dias de hoje.
A Constituição brasileira defende a liberdade religiosa, permitindo a não interferência do Estado na fé das pessoas.
Como ensinam os ventos da obviedade, como em toda atividade, existem aqueles que levam as coisas a sério e os outros, os que, atrás de uma máscara, buscam o enriquecimento fácil, a defesa dos próprios interesses enquanto a maioria procura o espaço de um templo como momento de fé, de um momento de contrição com seu Deus.
Esses mercadores da fé, que, segundo relato bíblico, foram expulsos a chicotadas do templo pelo próprio Jesus Cristo, são os mesmos que, durante o culto religioso de hoje, conclamam os fiéis a banir o demônio da vida das pessoas.
Chegam a mencionar o nome do diabo dezenas de vezes, causando a impressão de um culto às avessas, onde a figura central, em vez de Deus, seria Satanás.
Nesses mesmos faustosos templos, alguns verdadeiros palácios de cristal – todas as capitais do Brasil e de outros países têm pelo menos um –, o apelo é para as doações, em um ritual repetido à exaustão, verdadeira lavagem cerebral capaz de levar o mais incrédulo e avarento assistente a despojar-se de suas economias, ainda que esteja destinada à saúde e ao sustento da família.
São prometidos benefícios imediatos, a riqueza e o paraíso material que o dinheiro permite aqui e agora.
Significa que esses luxuosos templos são, na verdade, poderosos bancos transnacionais que, em vez de papéis, financiamentos, empréstimos, negociam a fé, em nome da qual seus cofres tornam-se cada dia mais robustos e os líderes religiosos nadam em dinheiro e podem quase tudo que a ordem e cultura capitalista permitem.
Esse tsunami de dinheiro sustenta, mais uma vez, a afirmação atribuída a Karl Marx de que a “religião é o ópio do povo”.
A poderosa droga que anestesia as consciências trava o pensamento, bloqueia a necessária vigilância crítica e leva à escravidão de uma fé calcada na cegueira.
O comércio da fé tornou-se negócio tão rentável que igreja tornou-se o ponto inevitável na paisagem urbana de qualquer lugar do País.
Como a liberdade de culto pressupõe a isenção de obrigações fiscais, como impostos, alvarás de prefeituras e outras exigências comuns a atividades comerciais, abrir igreja tornou-se opção de vida e emprego.
Alguém que acabe de cumprir pena na penitenciária, dada a dificuldade ou à pouca disposição em procurar serviço, faz opção preferencial por abrir uma igreja.
Torna-se pastor do dia para a noite. Para isso, basta alugar um cômodo, adquirir algumas cadeiras de plástico, uma mesa e arranjar uma Bíblia.
O resto fica por conta de uma boa conversa. Vem os incautos fiéis e com eles mares de dinheiro.
Passa da hora de o Ministério Público intervir nesse rico e fácil garimpo de almas fáceis e dinheiro que brota como água no oceano.
Tem até igreja investindo em pirâmide financeira. A fé e o dinheiro dos trouxas podem tudo.
Que algum parlamentar – que logicamente não pertença a essas igrejas – se digne a propor uma emenda constitucional para normatizar e criar um mínimo de disciplina e decência à atividade religiosa.
Somente assim, como ensina a Bíblia, se poderá separar o joio do trigo.
Quem, em sã consciência, conhece uma atividade filantrópica e de assistência social mantida por essas igrejas que prometem a riqueza aqui no reino dos injustos?
Com isso, as igrejas que levam a sério a pregação do Evangelho ficarão livre dos impostores, dos falsos profetas, dos vendilhões de templo, dos lobos em pele de cordeiro, que enriquecem à custa da boa fé dos humildes e ingênuos.
Que o tema suscite reflexão entre os líderes religiosos e seus fiéis nos cultos do cotidiano.
Por Antônio Lisboa jornalista pós-graduado em Comunicação Pública
Fonte: DM