quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Presidente do Banco Central filia-se ao PMDB

30/09/2009

Sebastião Montalvão
Especial para o UOL Notícias*
Em Goiânia


O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, filiou-se ao PMDB em seu Estado natal, Goiás, nesta quarta-feira (30).

Ele é cotado para disputar os cargos de governador ou senador por Goiás ou ainda para concorrer ao Planalto, seja como uma possível alternativa à candidatura de Dilma Roussef ou ainda como vice-presidente na chapa encabeçada pela própria Dilma.

No final da manhã de hoje, Meirelles assinou sua ficha de filiação no diretório do partido, localizado na Região Central de Goiânia. Apesar de todas as possibilidades, no entanto, o presidente do BC manteve um discurso reservado. "Meu único e atual projeto é o Banco Central. Não sou candidato a nada. E qualquer decisão nesse sentido, se houver, será tomada apenas em março", ressaltou.

Porém, esse não é o discurso do PMDB goiano. Dezenas de lideranças regionais participaram da cerimônia de assinatura e ressaltaram a importância do "reforço" para as próximas eleições. "As portas do PMDB estão escancaradas para Henrique Meirelles. Para se candidatar ao cargo que quiser", resumiu o prefeito de Goiânia, Íris Rezende.


Até então, o ex-ministro, ex-governador e principal liderança do PMDB em Goiás era considerado candidato certo ao governo no ano que vem. "O PMDB se sente valorizado com a decisão do ministro Henrique Meirelles de se filiar conosco", disse Íris, reafirmando que estaria disposto a abrir mão de sua candidatura ao governo em favor de Meirelles. "O PMDB não é um partido de interesses pessoais ou de um grupo. E o desempenho do Ministro Meirelles seja na vida pública ou privada o credencia a disputar qualquer posição", ressaltou.

Meirelles também avaliou que sua decisão de se filiar ao PMDB não terá qualquer influência no mercado financeiro. "O meu compromisso é continuar coordenando a política cambial para que o Brasil possa continuar no caminho do crescimento. Sou um homem que aprende com o passado, mas sigo ancorado no presente e com visão no futuro."

A filiação de Meirelles muda o cenário político em Goiás, já que inicialmente ele vinha discutindo uma possível filiação ao Partido Progressista, legenda do atual governador, Alcides Rodrigues. Nesse cenário, as eleições seriam disputadas em três vias: Meirelles seria o virtual candidato do PP, Íris Rezende sairia pelo PMDB e o senador Marconi Perillo seria o nome do PSDB.

Agora, com a união de Meirelles e Íris, ou o PP busca uma outra alternativa ou cria-se uma grande aliança. Alcides foi eleito com apoio de tucanos e democratas, mas rompeu com senador Marconi Perillo (PSDB), o que dificulta a reconstrução da base, o dificulta a polarização entre Marconi e o candidadto do PMDB. Nos bastidores, são fortes os rumores de que a base do governo poderia se juntar em torno de Meirelles e Íris em uma grande aliança.

"O governador Alcides Rodrigues é a maior autoridade política do Estado e tenho certeza que tomará sua decisão na hora certa. Vamos em busca de apoios em todas as frentes partidárias", disse Íris. O primeiro passo já foi dado. Meirelles, Íris e Alcides dividiram o palanque durante a visita do Presidente Lula a Goiânia, em agosto. Resta saber das seqüelas deixadas no PP após perder o passe de Meirelles. No PMDB existe uma preocupação de que os pepistas, por terem sido preteridos, possam voltar em debandada ao ninho dos Tucanos.

A filiação ocorre no dia seguinte da reunião entre Meirelles e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que avalizou a decisão. Antes do PMDB - partido que integra a base governista no Congresso -, Meirelles cogitou a filiação em outros partidos da base como PP, PR e PTB.

De economista a político

Meirelles é presidente do Banco Central desde o início do primeiro mandato do presidente Lula. Meirelles, no entanto, não foi a primeira opção do então recém-eleito presidente, em 2002.

Pelo menos três outros economistas foram convidados para comandar o Banco Central, num período de volatilidade do mercado financeiro. Durante a campanha eleitoral de 2002, o dólar encostou nos R$ 4, causando pressão inflacionária. O mercado "precificava" a candidatura Lula, que buscava alguém para acalmar o sistema financeiro.

O petista encontrou como solução Meirelles, eleito deputado federal pelo PSDB de Goiás naquele ano. Foi o deputado federal mais bem votado do Estado de Goiás, com mais de 183 mil votos.

Por integrar o tucanato, a indicação de Meirelles sofreu resistência do PT - e especialmente da ala mais esquerdista do partido. Para assumir o novo posto, Meirelles renunciou ao mandato na Câmara e se desfiliou do PSDB.

Meirelles nasceu em Anápolis (57 km de Goiânia) e é engenheiro. Ele foi o primeiro brasileiro a dirigir um banco norte-americano, o BankBoston - instituição em que fez carreira desde 1974 até agosto de 2002, quando lançou sua candidatura a deputado.

Gestão no BC

Inicialmente visto com reticências por membros do novo governo, Meirelles ganhou destaque pela maneira como conduziu o BC no enfrentamento da crise financeira global.

Quando Meirelles assumiu, a economia brasileira enfrentava uma crise de confiança por incertezas relacionadas à mudança de governo. A taxa Selic estava em 25% ao ano e as expectativas do mercado apontavam inflação acima de 11% em 2003.

O BC elevou a Selic até 26,5% no primeiro semestre de 2003, mas isso não impediu que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) - a inflação oficial - fechasse o ano em 9,3%, acima da meta ajustada de 8,5%.

O Banco Central adotou, desde setembro de 2008, uma série de medidas para que o Brasil enfrentasse a crise financeira. Nesse período, a Selic caiu para o menor patamar já registrado, de 8,75% ao ano.

Com compras de dólar no mercado à vista, o BC fez com que as reservas internacionais atingissem recorde acima de US$ 220 bilhões. As políticas macroeconômicas do governo, entre as quais o controle da inflação perseguido pelo BC, foram citadas por agências de risco que deram ao Brasil em 2009 o cobiçado grau de investimento.

* Com informações da Folha de S. Paulo, Folha Online e Reuters

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