sábado, 26 de setembro de 2009

Presidente do PV diz que sigla não terá "peças carimbadas" apesar de Marina

26/09/2009
Maurício Savarese
Do UOL Notícias
Em São Paulo
Embora a decisão da senadora Marina Silva de trocar o PT pelo PV tenha mexido com o quadro eleitoral de 2010, os verdes não receberão "peças carimbadas" para fortalecer palanques estaduais na provável candidatura própria à Presidência da República, afirmou o presidente da sigla, José Luiz Penna, em entrevista ao UOL Notícias.
Penna negou que o PV tenha entrado em contato com várias celebridades e figuras da política nacional para dar musculatura à eventual candidatura de Marina, como o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, ou escritor Paulo Coelho.
Nos últimos dias, esses e outros nomes que poderiam dar impulso à candidatura de Marina à Presidência foram citados na mídia como possíveis novos quadros do PV. O prazo de filiação para os interessados em disputar as eleições de 2010 termina na próxima quarta-feira (30) e só depois disso o cenário para as disputas estaduais, que dão impulso à nacional, será traçado com mais firmeza.
"Não vamos trazer peças carimbadas. Onde houver a possibilidade de trazer pessoas com densidade, traremos. Mas o [deputado Fernando] Gabeira no Rio, por exemplo, dispensa a vinda de outras pessoas", disse o presidente do PV na entrevista. "O tempo todo ficam dizendo que um ou que outro está vindo. [A imprensa falou] até no Ivo Cassol [governador de Rondônia]! Ninguém falou com eles.
"Apesar da negativa, Penna deve passar o fim de semana em viagens para trazer novos membros para o PV. Um dos que discute filiação na sigla é o empresário Roberto Klabin, sócio da fabricante de papéis Klabin. "Ele vai se filiar, está junto no processo com a Marina", afirmou.
Outros nomes cogitados para entrada no partido são os do ator Victor Fasano e da atriz Christiane Torloni - ambos estiveram no evento de filiação de Marina em São Paulo.
O presidente do PV afirmou também que a provável candidatura de Marina já está sofrendo com tentativas dos potenciais rivais na disputa de desqualificá-la. "Os nossos adversários tentam restringir nossa ação para uma coisa temática. Não é verdade. Nós queremos mudar o modelo de desenvolvimento que já causou tanta dificuldade no mundo", declarou.
Alianças
O PV é ou foi aliado da maioria dos governos estaduais da atualidade e participa desde o início da base de apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Também dá sustentação aos dois principais governos do PSDB - São Paulo, com José Serra, e Minas Gerais, com Aécio Neves. Mesmo assim, Penna não vê dificuldades para construção de um discurso próprio para a candidatura de Marina, ex-ministra do Meio Ambiente, à Presidência.
"O partido não negocia seus passos futuros. Nós apoiamos o segundo turno do Lula, o segundo turno do Serra, depois apoiamos [o prefeito de São Paulo, Gilberto] Kassab. Cabe a eles o ônus de demitir ou permitir que continuemos trabalhando nas coisas que são caras para nós. Então não tem esse troço, ninguém vai influenciar a trajetória futura do partido. Não tem contradição", disse.
Penna refutou as críticas do deputado Ciro Gomes (PSB-CE), potencial adversário de Marina na corrida presidencial, que na edição de sexta-feira (24) do jornal "Folha de S.Paulo" afirmou que o presidente do PV fará "o jogo do PSDB e o DEM" para favorecer Serra. "Eu não escreveria as coisas que o Ciro Gomes fala. Ele tem essa coisa, não entendi para que ele disse isso", alfinetou.
Entre os potenciais aliados, disse Penna, estão governistas e oposicionistas porque o debate será sobre "o cenário do Brasil pós-Lula e uma discussão de um projeto para um Brasil sustentável, uma ambição tardia de colocar o Brasil no século 21.
"Não temos preocupação de trazer [gente] do governo nem da oposição. Estamos preocupados em construir nosso caminho. Por exemplo, o apoio do senador Cristovam Buarque ao projeto, caso o PDT não tenha candidato à Presidência, é muito valioso. Não é porque o PDT é base do governo ou deixa de ser. O senador é um marco pela melhoria da educação. Isso nos interessa", disse.
Questionado sobre as alianças com políticos conservadores e dificuldades para estabelecimento do PV no Brasil - a sigla existe em mais de 100 países - Penna respondeu: "Temos 20 e poucos anos de ação no Brasil. Não viemos de nenhuma via tradicional de poder. Não temos a via das Forças Armadas, das associações comerciais, das organizações sindicais, das organizações religiosas".
"Precisamos desse tempo para ir crescendo e criando nossa própria estrada. É um caminho sólido, mas não com a velocidade que a sociedade deseja", afirmou.
Polêmica com Paulo Coelho
Penna voltou a negar que tenha anunciado interesse do escritor Paulo Coelho de se filiar ao PV. O autor de vários best-sellers e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) tem proximidade com o PT e já participou de várias campanhas de Lula.
Na quinta-feira, Coelho voltou a falar sobre o assunto no microblog Twitter, dizendo que o presidente do PV tinha sido vítima de um trote ao cogitar seu ingresso na sigla.
"Ele está dando muito peso para isso. Não falei com o Paulo Coelho. Nunca nem o vi. Eu tenho interesse, tenho passagem grande pelo rock e ele foi parceiro de Raul Seixas. Tenho tudo para gostar dele. E ele está certíssimo [ao dizer que não conversou com o PV]", afirmou Penna.
"Tem acontecido coisas completamente malucas. Não passa de uma pegadinha. O que existia era uma conversa do escritório municipal do PV com o escritório dele no Rio de Janeiro. E nesse dia estava animado porque recebi a notícia de que o escritório perguntou até quando ele poderia se filiar."

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