quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Sustentabilidade no pós-crise

02/09/2009
Os modernos sistemas de gestão e de administração estabelecem claramente em seus preceitos que as ações de responsabilidade e de sustentabilidade socioambiental são, hoje, não apenas um diferencial a ser buscado e conquistado pelas corporações, mas, sim, atividades imprescindíveis a serem adotadas, incorporadas e desenvolvidas costumeira e sistematicamente por todas as áreas de atuação das empresas.
É notável como o envolvimento das corporações brasileiras em questões relacionadas à sustentabilidade vem progressivamente avançando, especialmente nas últimas duas décadas. O problema é que, em razão da grave crise financeira internacional que eclodiu em setembro do ano passado e da escassez de recursos, justamente em razão de seus efeitos sobre o mundo corporativo, houve uma natural desaceleração nas atividades de responsabilidade socioambiental corporativa. Assim, o consequente corte de despesas e de custos nas mais diversas áreas também foi sentido no segmento da sustentabilidade.
Com a reversão da tendência econômica recessiva a partir do segundo trimestre deste ano – notadamente no Brasil, mas que inclui uma onda positiva que movimenta grande parte dos países –, a expectativa é de retomada dos caminhos que já vinham sendo traçados antes da crise. No entanto, é evidente que a economia mundial mudou: os recursos financeiros, anteriormente quase infinitos pela produção virtual de papéis sem lastro, agora estão escassos e mais difíceis de serem obtidos; os sistemas de controle e de gestão financeira estão mais rígidos e passaram a exigir muito mais atenção às transações que movimentam a economia global; e as relações comerciais ficaram mais restritivas, por uma conjugação que envolve justamente a baixa oferta de crédito, a reduzida procura internacional por bens e serviços e a profunda aversão a riscos desenvolvida pelos agentes do mercado.
O que é certo, é que o mercado e os consumidores estão muito mais exigentes hoje do que antes da crise, e este rigor certamente irá refletir sobre as atividades de responsabilidade e de sustentabilidade das corporações. Desta forma, todas as ações corporativas precisam estar adequadas a essas exigências, que, apesar de não serem novas, serão cada vez mais contundentes.
Nunca é demais lembrar que a sustentabilidade veio para ficar e está intimamente ligada aos resultados da empresa, exigindo cada vez mais inovação, além da atenção especialmente dedicada de gestores, funcionários, colaboradores e demais stakeholders dos empreendimentos. O conceito deve, portanto, permear todos os processos, produtos e cadeias de negócios das empresas, representando um sistema concatenado que agregue o valor esperado a partir dos resultados efetivamente obtidos no campo da ação responsável.
É nesse contexto que está inserida a 27ª edição do Prêmio ECO, promovido pela Amcham (Câmara Americana de Comércio), entidade que completa 90 anos. Com o tema “Inovação e Sustentabilidade nas Empresas”, a premiação busca indicações sobre qual será o modelo de gestão que, a partir de agora, permitirá que um negócio seja classificado como sustentável. O Prêmio ECO pretende, assim, mobilizar as empresas no reconhecimento dos esforços cada vez mais engajados em direção do desenvolvimento sustentável dos negócios baseados no triple botton line: o social, o ambiental, e o financeiro, com a perspectiva da inovação.
O Prêmio ECO é pioneiro no reconhecimento das práticas socialmente responsáveis, estimulando e promovendo, desde 1982, uma reflexão sobre o desenvolvimento empresarial sustentável no Brasil. Hoje, em um mundo que emerge da maior crise financeira em muitas décadas, a política socioambiental é colocada a prova. As iniciativas classificadas comporão um Banco de Projetos no site da Amcham, e as organizações que forem reconhecidas pela premiação passarão a ser um exemplo de mudança e de disseminação da cultura da sustentabilidade na gestão inovadora em linha com os novos tempos.
Ao longo desses 27 anos, o Prêmio ECO acompanhou as mudanças no mundo dos negócios. A recente crise internacional levou os líderes empresariais a novas reflexões endereçadas ao desenvolvimento empresarial sustentável no Brasil, especialmente com ênfase na inovação. E, agora em 2009, a premiação pretende tornar-se uma referência nesse campo, contribuindo para que a cultura da sustentabilidade esteja intimamente envolvida com os princípios da inovação, o que, certamente, permitirá a geração de novas e eficientes soluções, que se tornarão exemplos em nosso país.

Por Iêda Novais diretora corporativa da BDO Trevisan e presidente do Comitê de Sustentabilidade da Amcham São Paulo (Câmara Americana de Comércio)

Nenhum comentário: