04 de Março de 2009 - A crise mundial é severa e, sabemos, com impacto profundo nas diferentes economias. Não podemos ignorar tal realidade, mas também a crise não pode imobilizar o País. Fomos postos à prova e devemos ser assertivos. Essa é a postura que os brasileiros esperam de suas lideranças.
A indústria não foge a esse compromisso. Nosso desafio não é apenas enfrentar os percalços inexoráveis de curto prazo - em termos de produção, emprego e renda -, mas, sobretudo, evitar um retrocesso (de viés mais permanente) na trajetória de crescimento nacional.
O Brasil interrompeu o ciclo de reformas estruturais que estava em andamento. Não cabe neste espaço discutir os motivos - de diferentes ordens e inspirações - que nos levaram a postergar discussões tão necessárias, como as novas e urgentes regras a pautar a relação capital-trabalho ou o perfil mais adequado à Previdência Social.
Precisamos retomar tal processo. A reforma tributária é outro tema de importância para a competitividade brasileira. Os partidos políticos representados no Congresso Nacional devem buscar o entendimento e aprovar, com urgência, o projeto aprovado na Comissão da Câmara, que simplifica o sistema de arrecadação de impostos e contempla a desoneração dos investimentos e das exportações.
A agenda das reformas inclui ainda uma nova revisão do regime de aposentadorias e pensões da Previdência Social e a modernização do sistema político.
É preciso também ter pressa com a adoção de medidas que melhorem o ambiente de negócios para as empresas. Isso requer definição de marcos regulatórios, delimitação de poderes e do papel das agências reguladoras e incentivos à inovação e às exportações.
O crescimento econômico do País depende ainda da retomada de investimentos em áreas essenciais como energia, transportes e saneamento básico.
Este é também o momento de reavaliar a política econômica e promover uma mudança no eixo da política macroeconômica. Impõe-se a necessidade de mudança da relação câmbio-juro. A prevalência de taxas de juros elevadas - de dois dígitos quando há muito a inflação recuou para apenas um dígito - é o exemplo maior. Ela conduziu à perda de competitividade dos produtos brasileiros, não apenas pelo nível da taxa de câmbio em si, mas também pelo ônus do elevado custo financeiro. A combinação juro alto e câmbio valorizado, dominante nos últimos dez anos, não é mais aceitável em um ambiente mundial recessivo e deflacionário.
A instabilidade originada pela crise mundial mudou o atual patamar do câmbio. Mas, passada a turbulência inicial, é necessário evitar a revalorização da moeda brasileira, vale dizer, praticar taxas de juros substancialmente menores que no passado.
Todavia, no médio prazo, combinar a mudança nos preços macroeconômicos com a manutenção de inflação controlada exigirá maior esforço fiscal, como a contenção nos gastos correntes de custeio e de pessoal.
Sem menosprezar os efeitos imediatos da recessão externa - que exigem ações emergenciais para minimizar a queda da atividade e suas consequências -, acreditamos ter diferenciais que permitirão ao Brasil sair fortalecido em relação aos demais mercados emergentes. Dispomos de recursos naturais abundantes, dominamos a tecnologia de produção de combustíveis renováveis e abrigamos um sistema financeiro sólido.
Indicadores de fevereiro mostram que, depois da forte queda no último trimestre de 2008, a atividade industrial começa a dar sinais de recuperação. O desempenho de alguns setores, como o automobilístico, confirma a previsão de que o ritmo de desaceleração da economia brasileira será inferior ao dos países desenvolvidos.
Não podemos perder mais essa oportunidade de consolidar as agendas do crescimento e da competitividade e preparar a economia brasileira para um novo salto. Discutir o longo prazo não é fugir à crise.
É o momento de preparar o País e as empresas para as transformações provocadas pelo novo cenário mundial. Com certeza, um conjunto de oportunidades diferenciadas se apresentará. Identificá-las e aproveitá-las será a chave do sucesso.
O Brasil e os empresários tiveram dinamismo e energia para superar outras turbulências e construir a décima economia do mundo. As experiências do passado e a implementação das reformas serão decisivas para sairmos desta crise e fazer o País retomar o caminho do crescimento.
kicker: Esta é a hora de preparar o País e as empresas para as mudanças no cenário global
A indústria não foge a esse compromisso. Nosso desafio não é apenas enfrentar os percalços inexoráveis de curto prazo - em termos de produção, emprego e renda -, mas, sobretudo, evitar um retrocesso (de viés mais permanente) na trajetória de crescimento nacional.
O Brasil interrompeu o ciclo de reformas estruturais que estava em andamento. Não cabe neste espaço discutir os motivos - de diferentes ordens e inspirações - que nos levaram a postergar discussões tão necessárias, como as novas e urgentes regras a pautar a relação capital-trabalho ou o perfil mais adequado à Previdência Social.
Precisamos retomar tal processo. A reforma tributária é outro tema de importância para a competitividade brasileira. Os partidos políticos representados no Congresso Nacional devem buscar o entendimento e aprovar, com urgência, o projeto aprovado na Comissão da Câmara, que simplifica o sistema de arrecadação de impostos e contempla a desoneração dos investimentos e das exportações.
A agenda das reformas inclui ainda uma nova revisão do regime de aposentadorias e pensões da Previdência Social e a modernização do sistema político.
É preciso também ter pressa com a adoção de medidas que melhorem o ambiente de negócios para as empresas. Isso requer definição de marcos regulatórios, delimitação de poderes e do papel das agências reguladoras e incentivos à inovação e às exportações.
O crescimento econômico do País depende ainda da retomada de investimentos em áreas essenciais como energia, transportes e saneamento básico.
Este é também o momento de reavaliar a política econômica e promover uma mudança no eixo da política macroeconômica. Impõe-se a necessidade de mudança da relação câmbio-juro. A prevalência de taxas de juros elevadas - de dois dígitos quando há muito a inflação recuou para apenas um dígito - é o exemplo maior. Ela conduziu à perda de competitividade dos produtos brasileiros, não apenas pelo nível da taxa de câmbio em si, mas também pelo ônus do elevado custo financeiro. A combinação juro alto e câmbio valorizado, dominante nos últimos dez anos, não é mais aceitável em um ambiente mundial recessivo e deflacionário.
A instabilidade originada pela crise mundial mudou o atual patamar do câmbio. Mas, passada a turbulência inicial, é necessário evitar a revalorização da moeda brasileira, vale dizer, praticar taxas de juros substancialmente menores que no passado.
Todavia, no médio prazo, combinar a mudança nos preços macroeconômicos com a manutenção de inflação controlada exigirá maior esforço fiscal, como a contenção nos gastos correntes de custeio e de pessoal.
Sem menosprezar os efeitos imediatos da recessão externa - que exigem ações emergenciais para minimizar a queda da atividade e suas consequências -, acreditamos ter diferenciais que permitirão ao Brasil sair fortalecido em relação aos demais mercados emergentes. Dispomos de recursos naturais abundantes, dominamos a tecnologia de produção de combustíveis renováveis e abrigamos um sistema financeiro sólido.
Indicadores de fevereiro mostram que, depois da forte queda no último trimestre de 2008, a atividade industrial começa a dar sinais de recuperação. O desempenho de alguns setores, como o automobilístico, confirma a previsão de que o ritmo de desaceleração da economia brasileira será inferior ao dos países desenvolvidos.
Não podemos perder mais essa oportunidade de consolidar as agendas do crescimento e da competitividade e preparar a economia brasileira para um novo salto. Discutir o longo prazo não é fugir à crise.
É o momento de preparar o País e as empresas para as transformações provocadas pelo novo cenário mundial. Com certeza, um conjunto de oportunidades diferenciadas se apresentará. Identificá-las e aproveitá-las será a chave do sucesso.
O Brasil e os empresários tiveram dinamismo e energia para superar outras turbulências e construir a décima economia do mundo. As experiências do passado e a implementação das reformas serão decisivas para sairmos desta crise e fazer o País retomar o caminho do crescimento.
kicker: Esta é a hora de preparar o País e as empresas para as mudanças no cenário global
Fonte: (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 3) ARMANDO MONTEIRO NETO* - Industrial e presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI)
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