quinta-feira, 12 de março de 2009

Protógenes promete dar nomes aos corruptos

Marina Dutra
da EDITORIA DE CIDADES
Da Agência Estado, de Brasília

Convocado pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Grampos, da Câmara Federal, para prestar depoimento a respeito dos supostos métodos ilegais de espionagem contra autoridades dos três poderes, o delegado da Polícia Federal, Protógenes Queiroz, afirmou, ontem à noite, em visita a Goiânia, que está disposto a colaborar. Ele falou que o Brasil vai conhecer, a partir de agora, os “meandros da corrupção”. Protógenes disse ter ficado “feliz” com o afastamento do sigilo dos documentos do inquérito que apura eventuais irregularidades na investigação da Operação Satiagraha – que o delegado comandou no ano passado. “Fico feliz com a quebra de sigilo, porque, a partir de agora, o povo brasileiro, todo o Brasil vai conhecer os meandros da corrupção. Quando for confrontado com qualquer documento durante a apuração da CPI, eu prestarei todos os esclarecimentos necessários para que não pairem dúvidas das participações de algumas pessoas do cenário nacional”, afirmou momentos antes de participar do debate “Combate à corrupção”, promovido pela Universidade Federal de Goiás (UFG), por meio do Diretório Central dos Estudantes (DCE).
Protógenes já depôs à CPI em agosto do ano passado, quando negou qualquer ilegalidade na Satiagraha, mas se recusou a dar detalhes da investigação, que, até então, era mantida em sigilo pela Justiça paulista. Questionado se autoridades dos três poderes estariam envolvidas no esquema de lavagem de dinheiro, fato que levou à prisão do banqueiro Daniel Dantas, o delegado não se esquivou, mas disse que apresentará os nomes somente na CPI. “Depende de cada documento que será apresentado para eu verificar o nome da autoridade que está envolvida ou relacionada com o banqueiro-bandido Daniel Dantas. Estou tranquilo, não tenho nenhuma relação escusa com esse esquema, e o Brasil vai saber o nome de cada pessoa envolvida”, frisou.
O delegado demonstrou ontem que não tem o que temer com a CPI e reiterou que, a partir de agora, a operação ficará mais clara e nítida para que a sociedade saiba todo o “estratagema” de corrupção montado no Brasil e que inclusive possui “tentáculos” no exterior do País. Apesar de a comissão se arrastar há 15 meses, Protógenes garantiu que fatos novos serão incluídos na investigação.
A todo momento que Protógenes era levado a falar sobre a Operação Satiagraha, ele fazia questão de se referir a Daniel Dantas como “banqueiro-bandido”. Disse também não temer sobre as provas coletadas durante a investigação. “As provas são claras, estão registradas e não podem ser alteradas ou ser interpretadas de outra maneira. Está sob poder do Ministério Público Federal e Polícia Federal.” Acrescentou que, com as investigações, o Brasil terá conhecimento também da necessidade de se terem delegados com maior poder de autonomia. “Teremos a nítida noção de como é importante ter delegados com maior autonomia no Brasil para combater a corrupção que envolve assuntos do âmbito federal. Estamos atrelados ao regime obsoleto que não dá condições da autoridade policial realizar um trabalho à altura.”
Veja
O delegado rebateu novamente reportagem da revista Veja desta semana, que o acusa de ter espionado ilegalmente autoridades, como a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). A reportagem foi responsável para que a comissão convocasse o delegado para prestar depoimentos. “Este tipo de denúncia é para desmoralizar a operação. É mais uma vez tentar tirar o foco do objeto principal. Não sou a favor de nenhum governo, sou delegado e não faço guarda pretoriana de nenhum governo. Presto serviço somente ao povo brasileiro.” Na abertura da palestra, a estudante de História da UFG e diretora do DCE, Iara Neves, em protesto contra a reportagem da Veja rasgou a revista sob olhares de estudantes que aplaudiram a iniciativa e gritaram em coro: “Veja cara-de-pau, capacho do governo federal.” Estudantes elogiaram a atuação do delegado e disseram que ele é exemplo de pessoa que não temeu confrontar até mesmo o “panteão dos deuses”, o Supremo Tribunal Federal.
Protógenes não se surpreendeu com a quebra de sigilo telefônico dele, anunciada, terça-feira, pela Polícia Federal. “Não me preocupo, porque o sigilo já deve ter sido quebrado desde o início da investigação. E não será revelado nada de anormal ou nenhuma relação obscura”. Reforçou novamente que não teme a morte e que gosta de repetir a frase do vice-presidente da República, José Alencar. “Não tenho medo da morte, e sim medo da desonra. Só temo a Deus.”
CPI convoca Lacerda
e faz convite a Dirceu
Prorrogada pela quinta vez, a CPI dos Grampos começou ontem novo capítulo de atividades convocando para prestar depoimento o delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz, o ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Paulo Lacerda e agentes da agência, entre os quais Lúcio Fábio Godoy de Sá e Jerônimo Jorge da Silva Araújo, que confirmaram a participação da agência na Satiagraha. Godoy afirmou ter ouvido de Protógenes que o filho do presidente Lula, Fábio Luiz, o Lulinha, havia sido “cooptado” pelo banqueiro Daniel Dantas, segundo reportagem da revista Veja desta semana. Já Godoy de Sá declarou haver outro sistema de escuta na PF, além do guardião.
Depois de quase 15 meses de existência, a CPI também conseguiu aprovar o convite ao ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, supostamente vítima de operação ilegal feita por Protógenes, que, ainda segundo a revista, bisbilhotou a vida de várias autoridades dos Três Poderes.
Quem também será convidado a comparecer à CPI é o juiz Ali Mazloum, da 7ª Vara Criminal Federal, além do delegado da PF Amaro Vieira Ferreira. Suposta vítima de arapongagem, assim como Dirceu, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) será outro político a receber convite para explicar as denúncias que fez no mês passado. O peemedebista acusou integrantes de seu partido de corrupção e revelou, posteriormente, estar sendo vítima de espionagem.
A CPI decidiu divulgar sete volumes sobre o inquérito que apura o vazamento da Satiagraha. O material foi encaminhado à comissão na última quinta-feira (5) pelo juiz Ali Mazloum. O material estava trancado dentro do cofre da CPI desde então. No início da semana, o magistrado quebrou o sigilo do inquérito.

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