terça-feira, 10 de março de 2009

O que é isso, capitalismo?

Por Eurico Barbosa escritor, membro da AGL, advogado e jornalista
O coração do capitalismo apresenta todos os sintomas de extrema fraqueza. De dezembro de 2007 até hoje 4.600.000 (quatro milhões e seiscentas mil) pessoas perderam o emprego nos Estados Unidos. Nos últimos seis meses todos os recordes negativos foram batidos pela economia norte-americana. Bancos salvos (por enquanto) da falência, depois da quebra do Lehman, assim como as maiores empresas da indústria automotiva. Mas a GM, mesmo depois do socorro gigantesco, continua demitindo (inclusive aqui no Brasil), o que pode ser interpretado como evidência de que a crise permanece em dimensão ainda não reduzida. Quase 1.000.000 (um milhão) de imóveis desocupados, abandonados pelos insolventes, atestam que a crise imobiliária (que muitos economistas apontam como a causa principal da bancarrota do Tio Sam) não passa ainda por reversão. Dow Jones e Bolsa de Nova York gangorram, com as quedas a superar as altas. O governo Barak Obama se rejubilou com a aprovação do seu pacote de ajudas e investimentos, mas o povo não se entusiasmou e os resultados ainda não correspondem aos objetivos e às expectativa das autoridadaes financeiras de lá e do mundo. Surpreendentemente, até, decepcionam. Bush já havia socorrido bancos e indústrias com US$ 780.000.000.000 (setecentos e oitenta bilhões de dólares). Obama está a aplicar mais setecentos e cinqüenta bilhões. O socorro já atingiu, portanto, a mais de um trilhão e meio. Todos os dias, porém, continuam marcados por notícias revestidas de pessimismo e desalento.
Trinta e seis mil brasileiros tiveram de vir embora do Japão na dramática situação de desempregados. A economia nipônica é uma das mais desesperadoras dentre as maiores vítimas da globalização e acaba de contribuir para que o desemprego brasileiro tenha mais quase quatro dezenas de milhares em seu contingente. (Na penúltima semana, a Embraer jogou nesse contingente mais 4.600 trabalhadores. Alguns milhares, ainda não informados oficialmente, foram também jogados no olho da rua pela Volkswagen, por decisão da matriz alemã).
A Inglaterra já estatizou dois dos seus maiores bancos, abocanhando 75% (setenta e cinco por cento) do controle acionário. A pátria de Milton Friedman, o campeão da teoria do Livre Mercado, adotou as ideias intervencionistas de Keynes - quem diria? Os inimigos do Estado como regulador da economia estão, todos e em todos os países, a tê-lo como o salvador supremo. Nos Estados Unidos tudo está a indicar que haverá também estatizações de bancos ex-poderosos, hoje a depender a sua sobrevivência dos programas de recuperação de Bush e Obama para tirá-los da catástrofe (mais de um trilhão e meio de dólares, repito) e sem que se possa ter certeza da providencialidade dessas medidas.
Na Alemanha, a queda da produção industrial é um fantasma a apavorar a nação, assim como desanimam a cada dias os resultados negativos das Bolsas de Valores. Como foi dito acima, a Volkswagen dispensou a grande maioria (quase quarenta mil) de empregados temporários, medida que atinge todos os países em que a grande fábrica germânica tem montadoras.
Muitos, todos, os países podem ser catalogados nesta que é - nunca é demais relembrar - a maior crise financeira e econômica desde a Grande Depressão de 1929. Após superada a hecatombe de oitenta anos atrás o mundo capitalista não esperava por debacle tão colossal.
O que é isso, capitalismo?
Você, que depois da queda do Império Soviético; você que passou a não ter alternativas - repito o que já escrevi neste espaço algumas vezes - que passou a correr sozinho na raia, qual foi a incompetência, a desídia, a política desastrada que o levou a esse abismo dantesco?
A selvageria dos seus métodos. A ganância sem limites. A ausência de escrúpulos negociais. Você mergulhou fundo na indução ao consumo e ao endividamento. Você não teve a mínima preocupação com a devastação da natureza. Você se fez arauto e fator da degradação do meio ambiente. Há poucos dias, milhares, em todo o Brasil, para citar apenas o caso do nosso Brasil, de automóveis e motos foram apreendidos pela Justiça porque os financiados - que foram induzidos a financiar - se revelaram inadimplentes, incapazes de responder pelas parcelas mensais das suas dívidas. Recentemente, quase todos que receberam o décimo-terceiro salário e passaram a contar com o aumento do salário-mínimo correram às firmas credoras para reduzir (quitar é caso raríssimo) o seu saldo devedor. Nos Estados Unidos um milhão de devedores de financiamento de imóveis desistiram de pagar. Os produtos importados da China arrasaram a maioria das indústrias manufatureiras brasileiras. Os bancos cobram juros extorsivos e criam taxas com frequência. Os protecionismos arrebentam com muitas exportações. As bolhas da economia americana já vinham sendo denunciadas até por megaempresários como George Soros e por intelectuais como Gore Vida. As guerras dos Estados Unidos contra Iraque e Afeganistão e as hostilidades ianques ao Irã e à Coréia do Norte são sumamente onerosas para aquela economia: enfim os fatores da crise mundial enchem compêndios, mas sumariá-las dá idéia da gênese do caos econômico e financeiro que assola o mundo.
Fonte: DM

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