A abertura da economia por um lado trouxe oportunidades de negócios aos países, mas por outro dificultou as ações dos Bancos Centrais, responsáveis pela execução das políticas monetárias em decidir sobre as taxas de juros. Isto porque não basta olhar o que vem ocorrendo apenas internamente, mas principalmente o comportamento das taxas de juros no mercado externo.
Os recursos alocados para empréstimos internos advêm de todos os mercados, razão pela qual não se pode ter como referência apenas o comportamento do próprio mercado. O spread bancário (diferença entre o valor de capitação de recursos e de seu empréstimo) varia de acordo com o comportamento da economia internacional e também em função dos indicadores de segurança dos países tomadores de capital no mercado.
Para além dos problemas inerentes à capitação de recursos, outras variáveis influenciam diretamente no comportamento das taxas de juros. A principal se refere à “assimetria de informações”, que nada mais é do que um corte feito na vida do tomador do empréstimo no momento que este solicita os recursos nos agentes financeiros.
As instituições financeiras adotam este comportamento no sentido de avaliar até que ponto o credor tem ou não condições de honrar os compromissos que pretende assumir. Como o corte é feito apenas naquele dia, e o que esta por vir não é possível ser levantado naquele momento, as instituições financeiras trabalham com uma margem de segurança, com o objetivo de minimizar as perdas de seus recursos. É por esta razão que a taxas de juros para o consumidor e para as empresas ficam muito acima das expectativas destes agentes.As taxas de juros cobradas no mercado brasileiro demonstram o tamanho da desconfiança destas instituições financeiras em relação a seus clientes. Os juros do cheque especial estão na casa de 172% ao ano, o crédito pessoal não sai por menos de 50%, no mesmo período, o financiamento às empresas, que atuam no setor de produção e ou serviços é de 30% ao ano, enquanto o financiamento para aquisição de veículos em que pesem os problemas vivenciados pelo setor neste momento de crise é de 30% ao ano.
O alto custo dos recursos no País fica mais evidente quando nos referimos à meta traçada pela própria instituição responsável pela execução desta política monetária, ou seja, o Banco Central. A previsão para o ano gira em torno de 4,5%. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado como referência para o sistema de metas, deve ficar entre 4,5% e 4,8%, isto em razão da desaceleração da atividade econômica e devido também em função da queda dos preços das commodities.
A questão que se coloca é que, até que ponto o Banco Central pode influir nas decisões das instituições financeiras sobre o seu controle? Muito, primeiro porque é esta instituição que traça o tipo de política monetária será adotada, podendo optar por uma política expansionista ou restritiva. A expansionista leva a uma queda das taxas de juros e a um aumento do produto agregado da economia, enquanto que a restritiva leva a um aumento das taxas de juros ou a sua manutenção em patamares elevadíssimos, prejudicando sobretudo o setor produtivo. Segundo porque esta instituição exerce um controle diário sobre ações dos bancos comerciais e financeiras, no intuito de levá-las a operar apenas com os recursos disponíveis em suas carteiras.
É comum estas instituições apresentarem em seus balancetes algum tipo de operação descoberta, o que as leva a fazer operações de redesconto para saneá-las, para tanto são penalizadas pelo Banco Central, quando este procedimento é adotado. Tudo em nome de garantir segurança em um setor altamente instável.
Ao nos depararmos com taxas de juros tão altas como referidas anteriormente, podemos concluir que o Banco Central fez opção por qual política monetária? A restritiva, é claro, no sentido de conter de forma mais rápida as taxas de inflação e de forma direta ou não acabar garantindo alta lucratividade ao setor financeiro.
Estaria ou não sendo injusto ao fazer esta afirmação? Se comparar as práticas neste setor do governo atual em relação ao finalizado em 2002, sim. Porque as taxas de juros que remuneram títulos públicos e que, também, servem de referência para os juros de mercado, naquele período chegaram a 29%, levando o cheque especial para algo em torno de 182% ao ano. Atualmente a Taxa Selic, responsável por remunerar estes mesmos títulos públicos estão em 12%, como vimos anteriormente, fazendo com que a taxa de juros do cheque especial seja de apenas 172% ao ano.
O problema é que ao comparar as taxas de juros praticadas atualmente no País com a de outros mercados, se percebe o quanto são abusivas, daí entender que minha afirmativa não é injusta. Na verdade a política monetária traçada pela autoridade monetária, para conter e ou manter as taxas de inflação em patamares inferiores a 5% ao ano, tem dificultado o crescimento do produto agregado da economia e beneficiado tão-somente o setor financeiro, proporcionando a estes taxas lucros muito acima das expectativas do próprio mercado globalizado.
Como se não bastasse este tipo de problema, outro foi eclodido no mercado, a crise financeira mundial, trazendo mais instabilidade ao mercado financeiro, com isso os spreads ficaram mais caros, houve uma retração ainda maior no crédito. Para se ter uma idéia, no Brasil, dos R$ 84 bilhões disponíveis em 2008, existem apenas R$ 75 bilhões disponíveis no mercado, a queda alcançou 11%, podendo reduzir ainda mais.
Os reflexos mais imediatos são: queda na atividade econômica em todos os setores e o aumento das taxas de desemprego, que já superam a casa de 7%.Concluindo, existe uma relação direta entre a política monetária adotada pelo Banco Central, a escalada das taxas de juros e a redução de crédito na economia brasileira. A crise é apenas mais um componente, para tentar explicar o descompasso existente entre as taxas de inflação, a disponibilidade de crédito, os níveis de crescimento alcançados e as taxas de juros cobradas no mercado interno.
Por Júlio Paschoal coordenador dos Cursos de Ciências Econômicas e Contábeis das Faculdades Alfa
Fonte: DM
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