sábado, 7 de março de 2009

Vez, voz e tempo das mulheres

Em reunião da Rede Talher de Educação Cidadã, os homens prepararam uma mística de homenagem às mulheres por ocasião do seu dia. Escutamos e cantamos músicas de Erasmo Carlos, Milton Nascimento, Mercedes Sosa, ouvimos e declamamos poemas de Cora Coralina e, ao final, oferecemos uma flor a todas as mulheres do grupo.
Todos ficaram emocionados, especialmente porque cada um escreveu numa cartela os nomes das mulheres que mais marcaram sua vida e falou aos participantes porque cada uma delas marcou profundamente sua vida. Escolhi quatro mulheres, entre tantas que me acompanharam no tempo, que continuarão especialmente presentes o resto da vida. Mamãe Lúcia: uma pequena agricultora de Santa Emília, Venâncio Aires, interior do interior do Rio Grande do Sul, com quem só falo alemão, e que, aos 82 anos, depois de criar nove filhos, lava o chão de casa sem dobrar os joelhos, cozinha, lava roupa, vai para roça todos os dias e na devoção ou missa aos domingos. Vó Gertrudes, que, com mão de ferro, criou 15 filhos e depois acolheu os netos, muito religiosa e capaz de, com um olhar, silenciar todos ao redor. Tia Nida, que morreu estupidamente num acidente provocado por uma moto quando ia para roça, e que, sentada, sortindo fumo, escrevia com carvão bem preto letras e palavras nas paredes do galpão, e mesmo eu chorando e reclamando, me fez aprender a ler e a escrever, aos 5 anos de idade, e a tomar gosto pela palavra e pela escrita. Marta, minha ex-companheira, que me fez decidir sair dos franciscanos e mudou minha vida.
Recordar as mulheres que amamos e fizeram nossas vidas, nosso pensamento, nossos valores, nosso jeito de ser e viver, seja as que estiveram mais próximas em nossa vida, seja as que nos inspiraram nos seus/nossos ideais, por suas lutas em favor da igualdade, em favor dos direitos, empunhando as melhores bandeiras, faz parte deste revigorar necessário num mundo dominado pelo egoísmo, pelo imediatismo do enriquecimento, pela sanha da vitória a qualquer preço, pela pressa desabrida, pelo “quem pode mais chora menos”.
As mulheres nos ensinam que o tempo é sempre amigo e companheiro. Se não é hoje, pode ser amanhã. As mulheres nos confortam com seu jeito doce e, às vezes, severo de dizer que não somos donos da razão e do mundo. As mulheres nos provocam com seus galanteios e nos fazem chorar de prazer. As mulheres nos mostram que a paciência pode e, às vezes, deve ser infinita. As mulheres nos ensinam que a dor pode estar calada no fundo da alma e que a alegria pode transbordar e marcar o resto de nossas vidas.
Tomara que o terceiro milênio e o século XXI sejam das mulheres, de todas as mulheres, e que aquelas ainda espezinhadas nos seus direitos, as estupradas e violentadas saiam de seu silêncio e gritem mais alto por liberdade, por compaixão, por igualdade. Quem sabe estes tempos de crise e de perplexidade geral sejam humanizados com seu sorriso, sua capacidade de amar, sua ternura e seu olhar de dizer, e fazer, que “um outro mundo é possível”.

Por Selvino Heck assessor especial do presidente da RepúblicaFonte: DM

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